Contemplação

Contemplação

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Eu vi Deus...e Ele tocava bateria

E foi essa a impressão que tive ao sair do Carioca Club na última sexta-feira.Depois da chuva veio a bonança,e a noite que prometia ser um fiasco foi com certeza uma das mais intensas,musicalmente,da minha vida.Vamos à epopéia.

O Todo Poderoso

A ida


Antes de mais nada,um breve resumo.Carl Palmer foi baterista da banda que eu mais admiro alucinadamente,o Emerson,Lake and Palmer.Essa banda foi uma das criadoras,se é que se pode chamar assim,do rock progressivo,que buscava uma mistura de rock com música erudita(no caso do ELP)e com outras tantas variações musicais das mais variadas partes do mundo.A idéia principal era misturar,e buscar o diferente.E com a Carl Palmer Band ele apresenta algumas peças dessa época do Elp,num formato diferente (batera-guitarra-baixo),mas com a mesma classe e fúria.
Fiquei sabendo a uns meses atras da vinda da Carl Palmer Band para a nossa amada Terra Brasilis.Soltei um sonoro palavrão e decidi que iria,nem que para conseguir tal feito colocasse meu rim empedrado no prego da Caixa.Não foi preciso tanto,ainda bem.Apelei pro emocional e consegui meu presente de aniversario antecipado,no formato de um ingresso para o show.E la fui eu,todo feliz para o bendito.
A tarefa não parecia ser das piores.Pinheiros é longe mas não é o fim do mundo.Então confiei no google,e nos seus conhecimentos do caótico trânsito de SP,e me baseei no tempo estimado de viagem.Não bastando isso,achei que seria uma boa ir de ônibus para o referido bairro.Sabe como é né,mais facil e tudo mais.Ledos enganos.
Então,por volta de 17:45 saio de casa absolutamente confiante que chegaria em Pinheiros,e mais precisamente no Carioca Club,no máximo 19:30,a tempo suficiente de ver o show que começaria as 20 horas.Só no sonho.
O caminho seria simples.Da minha casa até o Parque Dom Pedro II,e de lá até a Faria Lima,num ponto que é próximo a Cardeal Arco Verde,onde se localiza a tal casa.A primeira parte foi concluida com êxito,mais ou menos meia hora depois estava eu no Dom pedro,feliz da vida esperando o onibus que me levaria até a segunda e ultima escala da viagem.Mais ou menos vinte minutos depois,chega o ônibus.Maravilha,ainda faltavam 15 minutos para as 19 horas,tempo suficiente para chegar até lá.
Eu só não contava com um empecilho do mundo moderno.Um trânsito de tirar a paciência até do mais dócil monge.
Para ser mais direto,eram 8 horas da noite e eu ainda estava na Avenida Europa,acesso á Faria Lima.Maravilha.
Bom,sem muitas alternativas,fiz uso do meu apreço por caminhadas,e desci do onibus.
E caminhei.
E praguejei.
Acho que nunca falei tanto palavrão de uma veizada só na vida.Amaldiçoei a prefeitura que não lida corretamente com o trânsito.Amaldiçoei aqueles benditos seres que estavam ali em seus carros ao invés de estarem em suas casas vendo a novela das 8.Amaldiçoei a maldita indústria automotiva da qual sou fã confesso.Chinguei calçadas tortas,calçadas retas,árvores,bancas de jornal e qualquer obstáculo que interrompesse meu caminho.Estava furioso,como a muito não ficava.
Cerca de vinte minutos de caminhada vigorosa,com alguns pequenos trechos de corrida,e depois de quase me perder,chego à casa.Suando em bicas,ainda nervoso e com um medo danado de ter perdido o show.Por sorte,não perdi.




"O" Show

Quando cheguei,a primeira coisa que perguntei ao segurança foi se o show tinha começado a muito tempo.Com uma cara que desanimaria até o mais alegre dos mortais ele me disse que sim,o que ja bastou para surgirem mais alguns palavrões na boca desse que vos escreve.Enfim,entrei,e fui tomado pelo clima de devoção.
A casa é pequena,até menor do que eu esperava.Entra-se por uma via paralela ao palco,mas este é fechado de tal forma a só se ver quem ou o que está nele quando fica-se praticamente na frente do mesmo.Sacaram?
Mas logo da entrada ja pude ouvir as batidas vigorosas do Mestre Carl na batera.Chegando na frente do palco,esqueci toda a epopéia até ali sofrida.Ver um dos meus heróis musicais ali,a poucos metros de mim foi o suficiente pra fazer sumir todo o sentimento de raiva que vinha carregando até então.É uma sensação surreal,impossível explicar as emoções que rolaram ali.E esse foi só o começo.
Quando cheguei eles estavam tocando Trilogy,faixa do terceiro albúm de estúdio do Elp que leva o mesmo nome da peça citada.Divino.A guitarra do Paul Bielatowicz da uma dimensão totalmente diferente à música.Confesso que tinha um certo receio quanto a esse show,pelo fato de apreciar tanto os teclados que eram o carro-chefe do Elp.Ainda bem que deixei o meu receio debaixo do travesseiro e fui ao show.
A peça seguinte foi de chorar.A suíte Pictures At An Exhibition é uma peça do compositor russo Modest Mussorgsky e para mim é o protótipo perfeito do rock progressivo.Ritmo intrincado,belas melodias,alternância entre uma pegada mais rock e um lado mais lírico,tudo isso dividio em várias partes.A guitarra do Paul junto à levada de bateria do Carl dão uma cara de heavy metal para The Old Castle/Blues Variation.E definitivamente conclui que The Great Gates Of Kiev é linda,e deve ficar linda até se for tocada num cavaquinho.
Depois da suíte,veio a hora do Mestre brilhar.Fanfare for The Common Man é uma peça do compositor americano Aaron Copland.E constantemente nos shows o Carl sola nessa música.E dessa vez não foi diferente.Arrebatador,um monstro extremamente técnico mas com uma pegada vigorosa.Mesmo com seus 60 anos de idade ele ainda consegue fazer tremer com suas viradas absurdamente rápidas.Tive a sensação de que a banda era só um enfeite que poderia muito bem ser dispensado.Só o Carl e a sua bateria ja seriam suficientes pra entreter a platéia pela noite toda.
A próxima peça apresentada foi Carmina Burana.Isso,aquela mesmo que todo mundo conhece.Muito legal.Destaque para o guitarrista Paul Bielatowicz,que tem uma técnica invejavel.É rapido sem ser fritador,e tem um feeling muito aguçado também.E me fez lembrar o próprio Carl fisicamente nos bons tempos do Elp.Quanto ao  baixista Simon Fitzpatrick,confesso que não me agradou muito.Sei lá.Ele é bom,teve la seus momentos,mas meio apagado.Pode ser que isso se deva ao fato de eu não ter visto o show todo,e ter perdido o solo dele.Dizem que ele tocou Bohemian Rhapsody do Queen e que foi um grande momento.Enfim,continuemos.
A última peça da noite foi Nutrocker,uma peça escrita por Tchaikovsky e figurinha carimbada nas primeiras apresentações do Elp.Outra versão que tambem ficou brilhante nesse formato.
E com isso o show chega ao fim.O show sim,as emoções não.


 E a Tietagem começa

Em certa altura do show vi duas pessoas ali na platéia que me fizeram gelar.Dois monstros do "submundo" do rock nacional,Marinho e Netinho,bateiristas do Casa das Máquinas.Quando terminou o show me senti na obrigação de deixar a vergonha de lado e ir la falar com os caras.E fui.
Quando me aproximei e chamei o Netinho vi brotar um enorme sorriso de satisfação.Qual a razão?Simples.Eu estava devidamente fardado com a minha camiseta do Casa.Tanto ele quanto o Marinho foram extremamente gentis e afetuosos e eu tive a honra de abraçar dois músicos/heróis que têm uma história enorme de luta e paixão pelo rock.Só por isso ja valeria a noite.Mas teve mais.
No fim do show foram vendidos dvds da turnê européia e cartazes do show de Sp autografados.Só que eu imaginava que eles eram previamente autografados.Não,não eram.No fim de tudo,depois de tanta emoção,ainda veria o Carl bem de perto.
E vi.

E fiquei nervoso,e travei,e meu inglês paupérrimo só permitiu dizer um singelo e tímido "thanks Carl".E ele respondeu.ELE RESPONDEU PRA MIM!!!!.Thank you.Só isso.E eu quase derreti,num rompante adolescente perante o seu ídolo.E confesso isso sem a mínima vergonha.
Ainda,de quebra,encontrei com o Gabriel Costa,baixista do Violeta de Outono.Gente boníssima,foi la também babar no show do mestre.Ainda fiquei sabendo que o album novo do Violeta ja está em fase final de produção,e que seguirá uma linha progressiva semelhante ao maravilhoso Volume 7.Show.


Peço desculpas pelo post um tanto quanto extenso.Acho que poucos lerão até o final,mas certas emoções tem que ser descritas na sua totalidade.Ou então no mais próximo que se possa chegar disso.E foi isso que tentei fazer aqui,descrever toda a confusão que foi a noite do dia 19/11/2010,e como essa noite se tornou em uma das mais incríveis da minha vida.
Lembro que logo após a virada cultural de 2008 eu disse para alguma amiga minha (não lembro se era a Fer Grunge) que poderia morrer tranquilo,pois ja tinha visto o Som Nosso de Cada Dia,o Terço,o Casa das Máquinas e o Terreno Baldio,todos tocando na mesma noite.Agora,depois de ver o Carl Palmer em ação,sinto que não estou nem um pouco afim de deixar este mundo.Quem sabe vejo a turnê do Keith Emerson e do Greg Lake,relembrando tambem as músicas do Elp?

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